Vou arriscar uma escrita livre, despretensiosa, oldschool no melhor estilo Eros escrevendo a dez, 12 anos, nos primórdios desse blog.
Por volta daqueles tempos, eu começava escrevendo de forma a puxar um gancho - não tinha, de fato, muito o que escrever, como agora - então meus rodeios avizinhavam assuntos-menores: as ansiedades no colégio e logo em seguida as mesmas ansiedades, então na graduação em Física. Graduação essa que interrompi antes que surtasse. Relacionamento abusivo que fala né, aquele onde você segue sofrendo mas não rompe pois a expectativa não permite.
Esbarrei, resgatando e relendo algumas postagens antigas daqui, em comentários de amigos de longa data, alguns dos quais cultivo próximo até hoje, outros tantos que pertenceram a uma época e todos trazendo um laço com a realidade a que pertenci e venho construindo desde então. Me permito destacar os tantos comentários que apareciam em postagens melodramáticas, algo que, pude observar com o tempo, não me desvencilhei até hoje e me parece ser uma marca que gosto de carregar. Comentários me indicando possibilidades de interpretação da realidade, de resiliência, de irrelevância, buscas na memória das coisas que foram, exercícios de interpretação do que virá...
Me enxergo hoje certamente mais elevado que o individuo cujas palavras foram escritas alguns anos atrás mas gosto de reconhecer, entre o melodrama cênico e a claridade de reflexão, a ponderação com que sempre busquei elaborar o entendimento das cosias.
Em certa medida, e aqui numa reflexão atual, fico entre a ansiedade de trazer a tona a complexidade que negligenciamos durante nosso processo de elaboração da percepção e a resignação de entender o caminho como tão longo que os passantes vão procurar a sombra mais próxima para se estabelecer e pautar para si ser o suficiente ainda que brademos o frescor que nos aguardaria ao fim da jornada. Não estamos preocupados com a jornada, aparentemente. Somos embriagados pela vista e subjugamos a transitoriedade. Queremos fundar nossas bases, estabelecer aquilo que é sólido e, do topo de nossa frágil torre, observarmos como incólumes julgadores aqueles que transitam.
Também me afoga a percepção do mar de palavras por que me deixo fluir. A real-atualidade se alimenta de doses homeopáticas de informação, ainda que administradas de forma neurótica a preencher uma agenda cotidiana, minuto a minuto tampando cada brecha que sobre de nossas atividades. Se a realidade não vai ser lida por aqueles que passam a vista em uma linha com a complexidade que se pede, que sentido teria estender-se em estrofes de percepções questionáveis?
Imagino, daqui de onde estou hoje enquanto tempo e espaço, que seriam essas as razões que trouxeram em determinados momentos um dessabor com as minhas formas de interpretação. Se somos rasos, pra que prevermos profundidade? Mas se eu enxergo profundo, que são aqueles que insistem superficiais?
Proponho a elasticidade da realidade. É flexível, é transitório no tempo ainda que resiliente na estrutura. Ampliemos nossa capacidade de absorção, especulemos sobre aquilo que está para além de nós e pintemos o fractal das possibilidades. Ponderemos sobre o que se dispõe na medida do que traga a realidade à racionalidade. E que todo o resto permeie a subjetividade das coisas que são e não na mesma interpretação.
Tenhamos em mente a dualidade das coisas que devem ser e, em tempo, daquilo que virá a não-ser.
Realmente, me deixei levar por um lapso de escrita. Tentarei botar essa prática com maior frequência, ainda que eu sinta que só soe natural quando num átimo de uma madrugada chuvosa eu, na necessidade de estar cumprindo o horário do meu sono, descole as camadas da realidade para encontrar a brecha pela qual preencho palavras num texto escrito como folha seca num vento desorientado.
Curti o resultado. Devo voltar em breve e, de fato, quero que isso tome uma proporção. Faço dessas minhas palavras rascunhadas predição de textos concisos. Vou cavar a profundidade que acredito enxergar e para não me perder no obscuro do desconhecido, conto com as palavras daqueles que caminhando junto a mim iluminam a jornada.
[esse discreto hábito pretérito]
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